Sunday, November 11, 2007

[...] Consideremos que, dentre os desejos, há os que são
naturais e os que são inúteis; dentre os naturais, há uns que
são necessários e outros, apenas naturais; dentre os necessários,
há alguns que são fundamentais para a felicidade,
outros, para o bem-estar corporal, outros, ainda, para a
própria vida. E o conhecimento seguro dos desejos leva a
direcionar toda escolha e toda recusa para a saúde do corpo
para a serenidade do espírito, visto que esta é a finalidade
da vida feliz: em razão desse fim praticamos todas as nossas
ações, para nos afastarmos da dor e do medo.
Uma vez que tenhamos atingido esse estado, toda a
tempestade da alma se aplaca, e o ser vivo, não tendo que ir
em busca de algo que lhe falta, nem procurar outra coisa a não
ser o bem da alma e do corpo, estará satisfeito. De fato, só
sentimos necessidade do prazer quando sofremos pela sua
ausência; ao contrário, quando não sofremos, essa necessidade
não se faz sentir.
[...]

Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por
isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos
muitos prazeres, quando deles nos advêm efeitos o mais
das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos
sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior
advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo.
Portanto, todo prazer constitui um bem por sua própria
natureza; não obstante isso, nem todos são escolhidos; do
mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser
sempre evitadas. [...]
Consideremos ainda a auto-suficiência um grande bem;
não que devamos nos satisfazer com pouco, mas para nos
contentarmos com esse pouco caso não tenhamos o muito,
honestamente convencidos de que desfrutam melhor a abundância
os que menos dependem dela; tudo o que é natural é
fácil de conseguir; difícil é tudo o que é inútil.
Os alimentos mais simples proporcionam o mesmo prazer
que as iguarias mais requintadas, desde que se remova a dor
provocada pela falta: pão e água produzem o prazer mais
profundo quando ingeridos por quem deles necessita.
Habituar-se às coisas simples, a um modo de vida não
luxuoso, portanto, não só é conveniente para a saúde, como
ainda proporciona ao homem os meios para enfrentar corajosamente
as adversidades da vida: nos períodos em que
conseguimos levar uma existência rica, predispõe o nosso
ânimo para melhor aproveitá-la, e nos prepara para enfrentar
sem temor as vicissitudes da sorte.
Quando então dizemos que o fim último é o prazer, não nos
referimos aos prazeres dos intemperantes ou aos que consistem
no gozo dos sentidos, como acreditam certas pessoas
que ignoram o nosso pensamento, ou não concordam com
ele, ou o interpretam erroneamente, mas ao prazer que é a
ausência de sofrimentos físicos e de perturbações da alma.


[...] a prudência é o princípio e o supremo bem, razão pela qual
ela é mais preciosa do que a própria filosofia; é dela que
originaram todas as demais virtudes; é ela que nos ensina que
não existe vida feliz sem prudência, beleza e justiça, e que não
existe prudência, beleza e justiça sem felicidade. Porque as
virtudes estão intimamente ligadas à felicidade, e a felicidade
é inseparável delas. [...]

......de se pensar.... o00oo00oo00oo0

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